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Liberalismo no Brasil

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O Liberalismo no Brasil como instrumento de atuação no Estado e na sociedade brasileira tem se estabelecido de forma organizada desde 1831, na maior parte da história como oposição política ao conservadorismo, ainda que não se resumindo a esse papel. O liberalismo é uma filosofia política e moral baseada em liberdade e igualdade, defendendo a manutenção dos direitos individuais. Tais ideias surgiram sobretudo com a investida de pensadores iluministas no século XVIII, como John Locke e Montesquieu[1] e foram pouco a pouco assimiladas por setores específicos da sociedade no decorrer da história brasileira. Com a Proclamação da República em 1889, o movimento liberal em sua organização tradicional desapareceu por um longo período, muito pelo caráter distante das ideias liberais que foi esse momento de transição no Brasil.[2][3]

Em proporção, maioria dos partidos liberais foram fundados apenas na segunda metade do século XX. Mas especificamente a partir de 1966, o liberalismo foi representado apenas pelo Movimento Democrático (dividindo espaço com diversas outras legendas), partido opositor ao ARENA no modelo bipartidário que foi sustentado por 12 anos no Brasil.[4][5] Depois que o multipartidarismo se reinstalou em 1979, mais partidos e movimentos se rotularam como liberais, mas a palavra também foi usada para designar os objetivos de algumas formações conservadoras moderadas, como o atual Partido Liberal.

As ideias liberais que entravam em terras brasileiras junto com os viajantes estrangeiros e por meio de livros e de outras publicações, incentivavam o sentimento de revolta entre a elite de Pernambuco, que participava ativamente, desde o fim do século XVIII, de sociedades secretas. Em 1796, o naturalista Manuel Arruda Câmara fundou a Sociedade Secreta Areópago de Itambé, primeira loja maçônica do Brasil, que difundiu ideias libertárias, contra a repressão colonial.[6]

Ainda durante o período colonial, o Brasil conheceu revoltas inspiradas no modelo norte-americano e francês. Dentre essas revoltas destacam-se a Inconfidência Mineira, ocorrida em 1789, e a Conjuração Baiana, ocorrida em 1798. Ambas incluem-se no quadro de influência da Revolução Francesa, não se caracterizando como movimentos genuinamente brasileiros na dimensão do liberalismo. Segundo o historiador e filósofo liberal brasileiro Antônio Paim “das conspirações abortadas em fins do século XVIII, em Minas Gerais e na Bahia, recolhe-se a impressão de que não havia maior clareza quanto ao novo ordenamento institucional que se pretendia implantar em caso de vitória”.[7]

Revolução Pernambucana

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Revolução Pernambucana de 1817: único movimento separatista do período de dominação portuguesa que ultrapassou a fase conspiratória, tinha como objetivo a implantação de uma república liberal no Brasil.[8]

A Revolução Pernambucana, também conhecida como "Revolução dos Padres", foi um movimento emancipacionista que eclodiu no dia 6 de março de 1817 em Pernambuco, no Brasil.[9][10] Dentre as suas causas, destacam-se a influência das ideias iluministas propagadas pelas sociedades maçônicas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu séquito recém-chegados ao Brasil — a capitania de Pernambuco, então a mais lucrativa da colônia, era obrigada a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comidas, roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas locais (como a seca ocorrida em 1816) e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande descontentamento no povo pernambucano.[10][8][11]

Único movimento separatista do período de dominação portuguesa que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo de tomada do poder, a Revolução Pernambucana provocou o adiamento da aclamação de João VI de Portugal como rei e o atraso da viagem de Maria Leopoldina de Áustria para o Rio de Janeiro, mobilizando forças políticas e suscitando posicionamentos e repressões em todo o Reino do Brasil.[8][12][13][14] O príncipe regente impôs uma repressão violenta: treze revoltosos foram executados pelo crime de lesa-majestade (a maioria enforcados e esquartejados, enquanto outros foram fuzilados), e muitos morreram na prisão ou em combate.[15] Ainda em retaliação, Dom João VI desmembrou a então comarca das Alagoas do território pernambucano (sete anos mais tarde, Dom Pedro I tiraria de Pernambuco as terras que correspondem ao atual Oeste da Bahia como punição pela Confederação do Equador).[16] Apenas na data de sua coroação, em 6 de fevereiro de 1818, Dom João ordenou o encerramento da devassa.[17]

A Revolução Pernambucana contou com relativo apoio internacional: os Estados Unidos, que dois anos antes tinham instalado no Recife o seu primeiro Consulado no Brasil e no Hemisfério Sul devido às relações comerciais com Pernambuco, se mostraram favoráveis ao movimento, bem como os ex-oficiais de Napoleão Bonaparte que pretendiam resgatar o seu líder do cativeiro em Santa Helena, levá-lo a Pernambuco e depois a Nova Orleans.[18][19]

Os revolucionários, oriundos de várias partes da colônia, tinham como objetivo principal a conquista da independência do Brasil em relação a Portugal, com a implantação de uma república liberal. O movimento abalou a confiança na construção do império americano sonhado por Dom João VI, e por este motivo é considerado o precursor da independência conquistada em 1822.[20]

Formação do pensamento liberal no Brasil

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Retrato de Hipólito José da Costa.

Até o século XIX, essas ideias iriam se popularizar pela Europa, sobretudo na Inglaterra e França e mais tarde na península Ibérica, levando alguns dos burocratas portugueses, e outros colonos europeus a levarem o liberalismo aos poucos em direção a sociedade brasileira.

Os expoentes mais conhecidos nas primeiras divulgações das ideias liberais no Brasil foram Silvestre Pinheiro Ferreira e Hipólito da Costa. Filósofo e jornalista, respectivamente, ambos fizeram publicações liberais ou efetuaram gestão política relacionada; tendo o segundo, brasileiro do sul do país, contribuído significativamente através de publicações e edições do Correio Braziliense durante mais de uma década. O jornal era editado em Londres, porém Hipólito fazia a tradução de seções e artigos do jornal que julgava necessárias, divulgando-as pelo Brasil.[7]

A atuação antecedente dessas figuras iria estimular as principais ideias liberais a se instalaram no início do século XIX, tendo maior influência a partir da independência do Brasil em 1822.[21] Os principais adeptos às ideias liberais da época faziam parte da elite interessada na economia de exportação e importação, assim como muitos proprietários de terra. Os primeiros simpatizantes tinham zelo, sobretudo, pelas próprias estruturas tradicionais de produção mas também na libertação do jugo de Portugal, assim como mais espaço no livre-comércio; daí o impulso dado pela independência.[22]

Formações partidárias

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Esta seção oferece uma visão geral das linhas históricas de partidos liberais no Brasil. É limitada a partidos liberais com apoio substancial, sobretudo aqueles tendo alguma representação no congresso/parlamento comprovada. O sinal ⇒ representa o surgimento de outro partido ou movimento a partir de uma ala específica do partido em progenitor. Para inclusão neste esquema, não é necessário que os partidos que surgiram a partir dos anteriores se considerem liberais.

Linha do tempo

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Ver Septênio Liberal

Partido Liberal (1831)

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  • 1831: Em resistência ao regime imperial, os liberais formaram em 1831 o Partido Liberal, vagamente ligado à pequena burguesia urbana.[23] Tornou-se o principal partido progressista durante a monarquia.
  • 1863: Uma ala de esquerda forma o ⇒ Partido Progressista.
  • 1868: O Partido Progressista se reuniu com o partido original.
  • 1869: Uma ala de esquerda forma o ⇒ Novo Partido Liberal.
  • 1882: Um novo Partido Progressista é formado.
  • 1889: Após a golpe de Estado de 1889, o partido desapareceu.

Partido Progressista (1863)

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  • 1863: Uma ala de esquerda do Partido Liberal ⇒ forma o Partido Progressista.[24]
  • 1868: O partido se reúne com o ⇒ Partido Liberal

Novo Partido Liberal

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  • 1869: Uma ala de esquerda do Partido Liberal ⇒ forma o Novo Partido Liberal, liderado por Joaquim Nabuco.

Partido Liberal Progressista (1882)

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  • 1882: Uma ala de esquerda do Partido Liberal ⇒ forma o Partido Progressista.[24]
  • 1889: Depois do golpe de Estado de 1889 o partido desapareceu.

Partido Republicano

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  • 1870: O Partido Republicano, um partido da classe média urbana, é formado.[24]
  • 1889: Depois do golpe de Estado de 1889 o partido desapareceu.

Aliança Liberal

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  • 1930: Burocratas liberais formaram a Aliança Liberal, liderada por Getúlio Vargas. Depois que ele perdeu as eleições fixas de 1930, o partido chegou ao poder com uma revolução.
  • 1934: Quando Vargas estabeleceu em 1934 um regime autoritário, o partido se desfez.

Movimento Democrático Brasileiro

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  • 1980: Uma ala liberal da ARENA estabeleceu o Partido Popular, liderado por Tancredo Neves .
  • 1981: O PP se fundiu ao ⇒ Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

Partido da Frente Liberal

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Partido Liberal (1985)

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Referências

  1. ROCHA, Marlos Bessa Mendes (2004). Matrizes da modernidade republicana. Cultura política e pensamento educacional no Brasil. Brasília: Editora Plano, 
  2. COSTA, Emília Viotti (1999). Da Monarquia à República. São Paulo: Fundação Editora da UNESP 
  3. Ferreira, Oliveiros S. "Do liberalismo no Brasil." Revista USP17 (1993): 6-13.
  4. a b c Patto Sá Motta, Rodrigo (1996). «II. A CRIAÇÃO DO BI PARTIDARISMO». "O Movimento Democrático Brasileiro nasceu a partir de um dos atos autoritários do regime militar instituído em abril de 1964...". Revista de Sociologia e Política. p. 201. Consultado em 14 de março de 2019 
  5. "A Evolução do Bipartidarismo Brasileiro 1966-1979", David V. Fleischer
  6. «Antecedentes - Revolução Pernambucana». Biblioteca Nacional. Consultado em 8 de julho de 2019 
  7. a b PAIM, Antônio (1998). História do liberalismo brasileiro. São Paulo, Brasil: Editora Mandarim. pp. 35, 36. ISBN 8535401229. OCLC 41185322 
  8. a b c Renato Cancian (31 de julho de 2005). «Revolução pernambucana: República em Pernambuco durou 75 dias». Consultado em 1 de março de 2015 
  9. «Pernambuco 1817 – A Revolução». Biblioteca Nacional. Consultado em 8 de julho de 2019 
  10. a b «Revolução pernambucana de 1817: a "Revolução dos Padres"». Fundação Joaquim Nabuco. Consultado em 16 de abril de 2017 
  11. «Revolução Pernambucana de 1817». InfoEscola. Consultado em 21 de junho de 2015 
  12. «República de 1817». Arquivo Nacional. Consultado em 20 de março de 2019 
  13. «Catálogo de Manuscritos — Autores — Leopoldina». Fundação Biblioteca Nacional. Consultado em 24 de março de 2019 
  14. «Biblioteca Nacional abre exposição sobre Revolução Pernambucana». O Globo. Consultado em 24 de março de 2019 
  15. «Instruções de Dom João VI para devassa e sentenças contra rebeldes em Pernambuco». UFF. Consultado em 8 de julho de 2019 
  16. GOMES, Laurentino. 1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2007, p.265-73.
  17. «Autoridades Reais». Biblioteca Nacional. Consultado em 8 de julho de 2019 
  18. «O resgate de Napoleão». História Viva. Consultado em 12 de maio de 2015 
  19. «Consulado Geral dos EUA em Recife». Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil. Consultado em 24 de junho de 2016 [ligação inativa]
  20. «Revolução Pernambucana - Considerada o berço da democracia brasileira, revolta completa 200 anos». UOL. Consultado em 3 de julho de 2019 
  21. CARVALHO, José Murilo de (2003). A construção da ordem. A elite política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira 
  22. SOUZA, ALEXANDRO (Agosto de 2007). «Panorama da história do liberalismo no Brasil». Revista Ibérica. Consultado em 14 de março de 2019 [ligação inativa]
  23. Breves Café. «Os partidos Conservador e Liberal». Consultado em 15 de março de 2019 
  24. a b c Barth, Fernanda (3 de fevereiro de 2016). «O Liberalismo no Brasil – Os primeiros partidos». Fernanda Barth. Consultado em 15 de março de 2019 [ligação inativa]
  25. a b Schmitt, Rogerio Augusto (2000). Partidos políticos no Brasil: (1945-2000). [S.l.]: Zahar. 73 páginas